Nunca acreditei que fosse possível
Ser completa
Lia sobre tampa e panela
Ouvia sobre a outra parte da laranja
Via sobre cara-metade
E acreditava em alma gêmea
Incompletude
Mas, não só isso
Inconclusas
Impossível de se completar
Sem alguma outra parte
Cresci com esse vazio
Sofri quando a minha tampa se foi
Mas calma
Todos temos nossa metade
A sua está te esperando
Sempre esperando
A alma gêmea
O par
A dupla
Os cônjuges
Os comparsas
Até que, um dia
Eu encontrei você.
E na hora, sem precisar de absolutamente nada
Eu tive certeza
Era tudo que sempre faltou
E no desespero de me sentir plena,
Coloquei em você todo o meu anseio
De não ser mais insuficiente
Mas no dia em que você se foi
Descobri que não levara apenas você
Levou a tampa
E a panela
A laranja inteira
As duas almas
E as algemas
E ninguém saiu ileso
Ele carregando nas costas o fardo de ser tanto
E eu ficando com o fato de ser nada
Como encontraria outra tampa?
Se antes fissura, agora era um buraco
Se cada vez que, eu encontrasse alguém
E tentasse tampar essa lacuna
Maior teria que ser
E se um dia fosse embora
Menor eu ficaria
Qual o segredo se não
Ser primeiro inteira
Íntegra
Completa
E abundante
Contentar-me com meus espaços
Sem o encargo de alguém preenchê-los
Sem a ansiedade de algo para me finalizar
Sem a necessidade de esperar
Sendo eu mesma capaz de expandir-me
E por lá ando caminhando
Conhecendo meus fantasmas
Enfrentando minha escuridão
Encontrando minha luz
E me enchendo dela
Espero te reencontrar, um dia!
Mas dessa vez
Eu pretendo estar inteira
E você, não se preocupe
Virá para em nada me
Completar
Finalizar
Preencher
Não precisarei
Virá e desejo que virá
apenas
pra gente
se transbordar.
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