Das cartas que escrevi pra você!

Eu sei, a última carta mais parecia uma despedida. Não notei enquanto escrevia, só reparei depois que, tudo parecia mesmo um adeus.

Não era! Quer dizer, claro que, em algum momento eu tenho que me despedir, fico pensando se isso tudo não é mesmo uma loucura que me faz mais mal do que bem.

Tenho pensado muito nisso. Mas não chegou o momento. Não ainda.

Quando chegar, talvez eu arranque o band-aid de uma vez. Dói bem mais, mas passa mais rápido também.

Meus amigos não confiam em mim, mas se tem algo que aprendi nessa vida é saber o quanto esticar minha corda sem arrebentar, aprendi da pior maneira, mas aprendi.

Está tudo bem! Vou saber quando parar.

Bem, recusei aquela vaga de emprego. Podia ser uma boa proposta, mas tomaria todo o meu tempo e você sabe, ainda tenho aquele sonho…

Enquanto eu dizia “não”, imaginei você sorrindo e batendo palmas imaginárias, não por causa de uma conquista, mas por conseguir me manter no caminho. É talvez a parte mais difícil, você tinha razão.

Nunca vou me esquecer daquele dia. Você estava exausto. Senti ao te abraçar.

Quis ir embora, deixar você descansar, mas você insistiu para que eu ficasse, nem que fosse só um pouquinho.

Sentei no sofá e você, sem nenhuma cerimônia, se rendeu ao colo e ao cafuné.

Até parecia que existia alguma coisa entre nós.

De olhos fechados, falamos de muitas coisas. Talvez eu tenha falado e você, ouvido. Mas foi ali que você me disse que não bastava seguir os objetivos, era preciso ser muito vigilante e não deixar nada atrapalhar.

Por mais que eu tente, eu não consigo lembrar como aquela noite terminou.

Só consigo lembrar dos meus dedos deslizando nos seus cabelos. Aquela sensação de te ter tão vulnerável. Sua vulnerabilidade é uma das coisas mais lindas em você!

Bom, finalmente entrei naquela oficina de teatro. Tem me feito um bem enorme.

Conheci uma banda nova que queria muito que conhecesse. Ouvi em looping enquanto trabalhava, mas bom mesmo foi escutar jogada na cama, de olhos fechados e pensando longe.

Momentos raros, mas que não consigo abrir mão.

Você sabe, a TV sempre está ligada e há sempre mais barulho e não lido bem com isso. Sou mais fã dos silêncios. Eles sempre dizem mais.

Ah! Comprei a passagem para Paris, que loucura né!? Nem sei como irei, mas irei, um pouco graças a você, se é que me entende. E eu sei que entende.

Continuo escrevendo, todo dia! Já terminei alguns cadernos. Muita coisa sobre você. Cada vez menos, mas ainda está lá.

É difícil às vezes. Outras vezes, é mais fácil. Sigo assim.

Eu entendo porque todos se preocupam comigo, mas afinal, que mal tão grande pode haver ao escrever essas cartas pra você? Que coisa tão horrível ou cruel poderia acontecer por causa dessas cartas?

Logo por causa dessas cartas, que nunca entregarei a você.

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